Alunos transformam lixo orgânico em fertilizantes 12/05/2014 - 16:00

A crescente produção de lixo gerada pela sociedade é uma dos principais problemas enfrentados pelas grandes cidades. Segundo o Programa das Organizações das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente (Pnuma), 1,3 bilhão de toneladas de resíduos sólidos são geradas no mundo inteiro em um ano. As estimativas mostram que esse número pode chegar a 2,2 bilhões de toneladas até 2025.

No Colégio Estadual Olindamir Merlin Claudino, em Fazenda Rio Grande, Região Metropolitana de Curitiba, os alunos já tomaram consciência sobre os impactos que o lixo causa no meio ambiente. Desde o início de 2014, o lixo orgânico gerado na cozinha se transforma em fertilizantes que são usados na horta da escola.

A mudança na rotina dos alunos faz parte da aplicação prática do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da professora Giovana Aparecida Pereira Bento, que dá aulas de geografia no colégio. O projeto da professora “Vermicompostagem: raspas e restos fazem a diferença” contagiou e envolveu os alunos, professores e funcionários da escola.

Os alunos que participam do programa fizeram uma apresentação para outros estudantes, pais e moradores da comunidade. Eles mostraram como as cascas de banana, laranja e caqui se transformam em húmus dentro das caixas de compostagem. Durante o processo também são usadas minhocas para acelerar a transformação dos resíduos orgânicos em fertilizantes.

REALIDADE – Recentemente, os cerca de 200 alunos que participam do projeto no período de contraturno fizeram uma visita ao Centro de Gerenciamento de Resíduos Iguaçu, aterro sanitário de Fazenda Rio Grande que recebe o lixo de Curitiba e outras 20 cidades da Região Metropolitana. Diariamente, são depositadas no aterro aproximadamente 2,5 mil toneladas de lixo de 21 cidades. A quantidade de resíduos assustou os estudantes.

“Eu sabia que a gente produzia bastante lixo, mas tanto assim não. A compostagem que fazemos aqui na escola é uma tentativa de diminuir essa quantidade de lixo no planeta”, disse a aluna Bianca Letícia Santos Kulka, de 12 anos.

A estudante Isabela Camile, 11 anos, também se conscientizou sobre o problema causado pelo lixo ao meio ambiente. “Eu não sabia que a gente produzia tanto lixo assim. Com o projeto aprendi que é bom reciclar, pois podemos fazer muitas coisas com o lixo”, afirmou.

A engenheira ambiental Isabela Mazepa, que levou os alunos para conhecer o aterro, falou sobre a importância dessa conscientização. “É bom eles terem bons hábitos desde pequenos e ensinarem os próprios pais, os coleguinhas, levar isso para os outros”.

COOPERAÇÃO – A professora Giovana explicou que se não fosse a ajuda das funcionárias da escola, como as merendeiras e agentes que cuidam das hortas, o projeto de compostagem não teria dado tão certo. “A equipe inteira da escola se envolveu, as funcionárias ajudaram muito na separação do lixo. Expliquei ao pessoal da cozinha, que separou direitinho. Casca do caqui, banana, laranja, talos de verduras, tudo é colocado na composteira”, disse Giovana .

A professora – que é especialista em Geografia e Educação Ambiental –

explica que o objetivo não é transformar todo o lixo da escola, mas conscientizar o aluno que ele pode fazer o mesmo processo em casa e que o lixo é responsabilidade de todos.

“Separamos tudo para a compostagem, cascas de frutas e pó de café para não dar mau cheiro. Isso vai direto para o projeto, não acumula lixo na cozinha”, contou a merendeira Rosaria Aparecida Camargo.

Com o andamento do projeto as funcionárias da escola resolveram fazer uma horta e cada uma cuida de um canteiro.

“Faz pouco tempo que começamos a plantar e já observamos que com a aplicação do húmus as plantas crescem bem mais rápido. Nunca tinha visto como é feito o processo de vermicompostagem. É incrível de ver, dá muito resultado. Pegamos o manual que a professora desenvolveu e vamos seguir os passos para começar a fazer em casa também”, disse Cleide Kuchnir, funcionária do colégio.

MUDANÇA DE HÁBITOS – Os resultados do projeto já ultrapassaram os muros da escola e chegaram às casas dos alunos. Selma de Oliveira de Lara tem um casal de filhos no Colégio Olindamir Merlin Claudino – Beatriz, de 11 anos, e Rafael, de 13.

Ela conta que o comportamento dos filhos mudou em casa após a participação no projeto. “A minha filha começou a me ajudar em casa na reciclagem. O projeto desenvolveu nela o interesse de plantar verduras dentro de garrafas pet em casa. Mudou até a alimentação dela. Antes era uma dificuldade para ela comer verduras e agora ela pega a verdura que ela plantou”, disse Selma.

Antes dos filhos participarem do projeto na escola Selma não tinha o hábito de separar o lixo. “Eu colocava tudo num saco preto. Agora, separo o lixo reciclado e o orgânico. Minha filha faz em casa o que aprendeu na escola, estou muito feliz com isso. Desenvolveu nela o interesse do cuidado com o meio ambiente. Ela também está levando o que aprendeu na escola para outras pessoas da família, como as tias”, explicou.

OPORTUNIDADE – O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) é ofertado em parceria entre a Secretaria de Estado da Educação, Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e as Instituições de Ensino Superior públicas do Estado. O programa possibilita ao professor o afastamento de 100% da função docente no primeiro ano e de 25% no segundo ano para estudos e elaboração de produções que possam colaborar para a melhoria da prática pedagógica dos professores nas escolas estaduais.

Para desenvolver o PDE, a professora Giovana Aparecida Pereira Bento ficou afastada da escola por um ano para estudar. “O PDE é uma oportunidade brilhante. Espero que todos os professores consigam passar por isso. É um período que você busca mais conhecimento. O PDE me deu oportunidade de sentar, estudar, fazer várias oficinas. Eu voltei uma professora diferente para a sala, muito melhor. É uma oportunidade única, foi um marco divisor na minha vida”, definiu a professora.

Uma nova forma de seleção do PDE foi implantada em 2011, priorizando a trajetória do professor da rede estadual. Para a seleção contam os cursos e docências oferecidos pela Secretaria de Educação ou em instituições de ensino superior, participação em Grupos de Trabalho em Rede, cursos de especialização, mestrado ou doutorado e o tempo de atuação na rede pública estadual. Antes, era preciso passar por provas e projetos. O programa já beneficiou mais de 11 mil profissionais.

manual_vermicultura.pdf
Manual de VermicompostagemRaspas e restos fazem a diferença

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