Semana cultural integra visitantes e indígenas 24/04/2014 - 16:40

A parceria entre a Escola Estadual Indígena Araju Porã, da terra indígena Tekoha Itamarã, e o Colégio Estadual Indígena Kuaa Mbo'e, pertencente à terra indígena Tekoha Añetete, ambas em Diamante do Oeste, rendeu a realização da Semana Cultural Indígena. O evento é uma oportunidade para professores e alunos conhecerem um pouco mais sobre os costumes, religiosidade e modo de viver dos índios guaranis.

A cada ano a semana é realizada em uma aldeia. A anfitriã, dessa vez, foi a terra indígena Tekoha Itamarã. O evento, que está na sua 8ª edição, foi criado para divulgar a cultura indígena da região e socializar aspectos da religiosidade, da dança, da música, do artesanato e o cotidiano. “Os não indígenas podem conhecer de perto a realidade de uma aldeia, o valor da educação para as crianças e o tipo de ensino que a escola indígena oferece”, explicou o presidente dos caciques no Oeste do Paraná, Teodoro Tupã Alves.

Alves também é professor de Língua Guarani na escola e responsável por acompanhar as políticas públicas das lideranças indígenas da região, que abrange Diamante do Oeste, Guaíra, Terra Roxa, São Miguel do Iguaçu.

Cerca de 2 mil pessoas visitaram a terra indígena e conheceram um pouco sobre a escola indígena com uma exposição etnofotográfica sobre a comunidade, fotos do dia a dia da aldeia e da escola, além de exposição de trabalhos desenvolvidos pelas crianças. “A escola indígena é bilíngue e intercultural, o que possibilita que as crianças que não são indígenas possam conhecer e tirar as suas próprias conclusões sobre as comunidades indígenas”, disse o diretor da escola, Mauro Dietrich.

O contato com a cultura indígena também ajuda a desconstruir alguns preconceitos e visões errôneas que a sociedade ainda possui sobre os povos indígenas, além de apresentar a força da cultura guarani, mantida através da literatura oral e da religiosidade. “Muitos povos, depois de 50, 60 anos de contato com o não índio, já perderam sua língua e suas tradições. O povo guarani foi um dos primeiros a ter contato com os exploradores, e é importante destacar a força desse povo, que ainda preserva suas raízes”, pontuou o diretor.

Houve ainda momentos de vivência e integração cultural com pintura corporal, apresentações culturais e da vivência na casa de reza - onde cerca de oito rezadores (xamoes), que são as lideranças religiosas das comunidades, apresentavam sobre a religiosidade e sobre o modo de ser guarani.

O encontro serviu para a aprendizagem dos alunos. “A forma de falar, de se vestir e até mesmo a música é bem diferente da nossa cultura. Eu gostei de tudo: dos trabalhos feitos pelos alunos indígenas das duas escolas, das pinturas, imagens, artesanatos e das apresentações culturais”, relatou a estudante Fernanda Maria Tischner Duarte, do 7º ano do ensino fundamental da Escola Estadual do Campo São Francisco, em Santa Helena.

A professora de História Andreia Zaparte, que acompanhou os alunos na visitação, destacou que conhecer uma cultura, na sua essência, faz uma diferença para o ensino dos alunos. “É muito importante para professores e para alunos esse contato com os povos. Após isso, podemos fazer a relação entre teoria e prática e ver o quão profunda é esta cultura, muito além do que é passado nos livros”. Segundo a professora, algumas questões que surgiram durante a viagem ainda fazem referência ao período da chegada dos portugueses ao Brasil. “Agora eles conseguem fazer essa diferenciação, pois tiveram contato com os indígenas atuais. A visita foi importante para aprofundar o conhecimento”, garantiu.

VISITA - O cacique e líderes da Aldeia Indígena Tekoá Itamarã também fizeram uma visita, no começo de abril, ao Colégio Estadual Frentino Sackser, em Marechal Cândido Rondon, a convite da professora de história Sônia Augusta de Moraes. O encontro fez parte da programação da Semana Cultural Indígena e também vem ao encontro da Lei 11.645 de 2008 que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos escolares. “Geralmente o aluno vai para a aldeia, mas o índio não vem para a escola não indígena”, apontou a professora ao falar da importância de trazer a cultura indígena para o ensino.

Com o respeito à diversidade, quem mais ganhou com a visita foram os alunos. “É importante o conteúdo em sala, mas a palestra, a dança, a música e a interação são boas formas de absorção e compreensão”, lembrou o diretor do colégio, Leocir Lang.

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