Alfabetizadores do Paraná renovam suas comunidades 22/11/2013 - 08:00
Em todo o Paraná, mais de 2,2 mil alfabetizadores têm o compromisso de alfabetizar cerca de 25 mil alunos, com mais de 15 anos, que não sabem ler ou escrever. Toda a pessoa com mais de 18 anos pode ser um alfabetizador e a primeira tarefa é identificar na comunidade pessoas com direito à alfabetização.
Foi assim com a alfabetizadora Rejane Cilani Retier da Silva, que desde agosto trabalha com sete pessoas de uma mesma família na comunidade quilombola Córrego do Malaquias, em Adrianópolis. “Participo de reuniões do Conselho Tutelar. Em uma delas, ao passar o livro-ata, percebi que algumas pessoas não eram alfabetizadas”, comentou.
Depois da constatação, Rejane procurou informações para ajudar sua comunidade. Ela contou com o apoio da coordenadora local de alfabetização em Adrianópolis, Célia Maria dos Santos Pereira. Também conseguiu ajuda dos vizinhos para que as aulas acontecessem na comunidade. Célia conseguiu as carteiras e uma lousa.
Hoje, junto com os adultos que estão sendo alfabetizados, cerca de 30 crianças também participam das aulas de Rejane. Algumas incentivam os adultos. Outras ganham um reforço na aprendizagem e boa parte se diverte com brinquedos pedagógicos usados pela professora. “Tenho que agradecer a oportunidade desse trabalho. Tenho orgulho em poder dizer que contribuo para que meus vizinhos sejam alfabetizados”, comentou Rejane.
ALFABETIZAÇÃO INDÍGENA - Alfabetizar crianças indígenas na língua caingangue é o atual trabalho do alfabetizador Alcides Rodrigues da Silva. As aulas acontecem no Colégio Estadual Indígena Kókoj Ty Hanja, em Mangueirinha. Por dois anos ele também alfabetizou adultos da sua comunidade, na Aldeia Campina.
Alcides atendeu à vontade de estudar dos seus amigos e familiares. “Tudo que você aprende deve ser passado para os outros. É muito bom quando se pode transmitir o conhecimento e ser útil para outras pessoas”, disse.
As aulas de alfabetização acontecem em todos os locais em que é possível a criação de turmas. Uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos permite que detentos possam aprender a ler e escrever.
Desde julho de 2013, o agente penitenciário Everton Rodrigo dos Santos é alfabetizador de 21 alunos na cadeia pública Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa. “O Programa Paraná Alfabetizado chegou à unidade para resgatar essas pessoas. Trabalhamos para que elas tenham uma oportunidade de ressocialização, para que retornem à sociedade da melhor forma possível”, explicou.
Segundo ele, os detentos sofrem um primeiro impacto ao saírem das unidades penais - o preconceito. A segunda condição é não conseguirem uma ocupação adequada no mundo do trabalho por não saberem ler ou escrever. A cada três dias de estudo, os presos têm redução de um dia na pena a ser cumprida.
Uma antiga cela de isolamento se transformou em uma sala de aula e já se planeja a construção de um barracão para abrigar mais duas salas. A ideia é aumentar o atendimento e dar continuidade ao trabalho, oferecendo a primeira fase da Educação de Jovens e Adultos – séries iniciais do ensino fundamental.
Os alfabetizadores precisam ter um vínculo de confiança com os seus alunos que, muitas, vezes têm a autoestima baixa e acreditam que não têm condições de aprender. Os alfabetizadores passam por uma formação inicial e continuada para melhor desenvolver o seu trabalho de alfabetização.
Quem trabalha com alfabetização ainda tem material pedagógico do Ministério da Educação e recursos de apoio da Secretaria de Estado da Educação. Os alfabetizadores têm permissão de criar e adaptar materiais que atendam a realidade de cada turma de que atendem.
“O alfabetizador tem que ser um mediador do conhecimento, que considera e valoriza a história do alfabetizando, e um incentivador para que o alfabetizado dê continuidade aos estudos”, disse a chefe do Departamento de Educação de Jovens e Adultos, Márcia Dudeque.
SEMINÁRIO – Os alfabetizadores participam até esta sexta-feira (22) do Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos e Alfabetização. O evento reúne cerca de 300 alfabetizadores, coordenadores de turmas e técnicos dos 32 Núcleos Regionais de Educação que atuam no Programa Paraná Alfabetizado e na Educação de Jovens e Adultos Fase 1 (anos iniciais do ensino fundamental).
O seminário é promovido pela secretaria estadual da Educação com o objetivo de definir as principais funções dos alfabetizadores e discutir metodologias do trabalho pedagógico.