Casas Familiares Rurais são exemplo de educação no campo que dá certo 12/06/2009 - 16:20

    A atuação da Secretaria de Estado da Educação nas Casas Familiares Rurais (CFR) do Paraná está contribuindo para descobrir vocações e incentivar a permanência do jovem no campo. E para assegurar a qualidade do ensino oferecido aos alunos de quinta a oitava série, ensino médio e ensino médio técnico que participam desta ação, a SEED está promovendo uma série de eventos de formação continuada aos professores e   monitores que atuam nas Casas Familiares Rurais. “É importante a discussão sobre a Pedagogia da Alternância com os professores, monitores, coordenadores da CFR, Núcleos Regionais da Educação e Associação das CFRs – ARCAFARSUL para que possamos atender o jovem do campo com qualidade de ensino, atendendo suas especifidades”, ressalta a coordenadora do programa junto à SEED, Cândida de Carvalho Junqueira. O evento, que em 2009 está acontecendo de forma descentralizada, já foi realizado em Altônia, Laranjeiras do Sul, Francisco Beltrão e Santo Antônio do Sudoeste, chega a São Mateus do Sul nos dias 15 e 16 de julho. Ao todo, devem participar 338 profissionais. Durante a formação continuada, temas como interdisciplinaridade, avaliação e legislação da Pedagogia da Alternância são debatidos. PROPOSTA -    A Casa Familiar Rural é parte de uma ação conjunta entre a Associação Regional das Casas Familiares Rurais- ARCAFAR, Secretaria de Estado da Educação, Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento e comunidade. A proposta é oferecer qualificação, escolarização e profissionalização ao jovem do meio rural para que ele possa adaptar-se à evolução no campo em conjunto com a sua família e comunidade onde vivem. Os alunos estudam de segunda a sexta-feira em período integral, em regime de internato, além de alguns afazeres do dia-a-dia. Eles passam uma semana na casa familiar rural e, na semana seguinte, vão aplicar em suas propriedades os conteúdos que aprenderam, sempre com a orientação e supervisão dos professores. No Paraná, A SEED oferece ensino regular aos alunos das Casas Familiares |Rurais desde 2005 por meio de uma parceria do Departamento de Educação e Trabalho, cedendo e capacitando os professores da Base Nacional Comum. Ao todo, são 41 Casas Familiares Rurais distribuídas pelo Estado, totalizando 2.246 alunos. NA PRÁTICA - Um exemplo dessa metodologia vem de Altônia, região noroeste do Estado. Criada há um pouco mais de um ano, a Casa Familiar Rural abriga hoje 38 alunos em duas turmas, uma de 6ª série e uma de 7ª série. Possui três professores que atuam nas disciplina da Base Nacional Comum conteúdos de língua portuguesa, artes, matemática, ciências, geografia, história, religião e inglês, além de dois monitores com formação técnica, no caso de Altônia, a casa dispõe de um técnico em agropecuária e uma zootecnista para atenderem a. “A intenção é motivar o aluno morador rural a permanecer em sua região, e para isso é necessário que eles gostem do campo, gostem do que fazem”, disse a coordenadora da ARCAFAR, Maria Neuza Aires Diniz Nunes. Para a aluna Beatriz dos Santos Bernhardt, 13 anos estudante da 7ª série, essa oportunidade serviu para ela descobrir sua verdadeira vocação. “Antes eu sonhava em ser uma doutora, advogada, pensava em sair do campo, hoje eu vejo com outros olhos essa tradição da cultura agrícola e seu do que verdadeiramente eu gosto. É muito bom estudar aqui, antes de entrar aqui meu pai falava, você vai estudar para não ficar na roça e eu não valorizava o meio rural. Aqui eu aprendi a dar valor ao serviço do meu pai e falo pra ele que hoje eu vou estudar e vou continuar na agricultura”, relata ela que sente feliz em poder colocar em prática todas as suas descobertas feitas na escola. COMUNIDADE - A ajuda da comunidade também é um muito importante na manutenção da Casa Familiar Rural. Um exemplo de dedicação a esse programa vem de Adenor Aparecido da Silva, voluntário e pai de aluno. “Quando fui procurado pela Associação para conhecer o projeto e saber se tinha interesse em uma casa aqui na nossa região, fui um dos primeiros a dizer que sim. E disse sim por perceber que os alunos precisam aprender com a tecnologia, mas também com a prática no seu ambiente doméstico. Já presenciei muitos aprendizados, já vi jovens aprendendo a vacinar gado, arar terra, isso sem dúvida é muito importante. Por isso, o incentivo aos nossos jovens para que ele cultivem o trabalho que foi dos avós, dos pais e que assim passe de geração em geração vale muito a pena”, disse ele, que tem o Alex Aparecido Silva, 13 anos cursando a 7ª série. PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA – A metodologia utilizada nas Casas Familiares Rurais é fundamentada na Pedagogia da Alternância, uma alternativa para a educação do campo, que consiste em tempo escola de uma semana em regime integral na Casa Familiar e tempo sócio-profissional de uma semana de aplicação supervisionada dos conhecimentos na propriedade familiar. A Pedagogia da Alternância tem como objetivo promover o aumento da escolaridade , formação e profissionalização eficaz e concreta mais apropriada à realidade do campo. Esse processo permite que o aluno aprenda técnicas que serão úteis para a vida no campo e as coloque em prática no meio sócio-profissional. Com a prática dessa metodologia, a educação apresenta em curto prazo, seus resultados. Os jovens passam a atuar como extensionistas rurais, disseminando os conhecimentos adquiridos, mudando sua realidade e o seu entorno, pois cada um exerce sua condição de protagonista, liderando e exercendo forte papel em suas associações rurais. Muitos pensam que pelo fato do aluno ter que ficar uma semana fora de casa isso cause um certo distanciamento da família e da comunidade. Pelo contrário, segundo Gabriela Patrícia Santos Fioravanti, aluna da 7ª série, essa distância é benéfica.  “Confesso que no início pensei que não fosse me adaptar por ter que ficar longe de casa, dos meus pais, mas com o tempo percebi que isso aqui só me traria benefícios e que sem dúvida valeria a pena todo e qualquer sacrifício. Estar aqui não afasta a gente do convívio familiar, e sim possibilita que a gente tenha acesso a vida real, as tecnologias e suas engenhosas invenções, fazendo com que muitos jovens saiam do seu mundo pequeno e fechado, deixem de ser retraídos e passem a ser mais extrovertidos e dinâmicos”, disse. A pedagogia de alternância possui vários instrumentos pedagógicos: o plano de estudo - meio de pesquisa participativa que o jovem aplica em seu meio(família e comunidade); o atendimento individual, o caderno sócio-profissional - local onde os jovens registram suas pesquisas e todas as atividades ligadas aos planos de estudos, entre outros. Os métodos de avaliação consistem em provas, trabalhos em sala de aula, dos próprios planos de estudos que eles desenvolvem em casa junto com a família, além de avaliar comportamento e o comprometimento de cada um. Histórico - As Casas Familiares Rurais tiveram origem na França em 1937, por iniciativa de um grupo de famílias do meio rural, que propuseram a formação profissional aliada à educação humana para seus filhos. No Paraná, o processo de implantação das Casas Familiares Rurais teve início em 1987, nos municípios de Barracão e Santo Antonio do Sudoeste, com o apoio dos agricultores e o envolvimento da comunidade. Hoje no Brasil já são mais de 240 Casas Familiares Rurais espalhadas em mais de 900 municípios. Só na região Sul do país o número já chega há 71, sempre nas regiões onde a agricultura familiar é muito forte. Neste ano, a Formação Continuada nas Casas Familiares Rurais teve a participação da Associação das CFR. “A SEED entende que se a Associação CFR é a gestora da instituição, os membros dessa associação devem ter conhecimento da sua função dentro do processo educativo. Portanto, discutir e definir ações. A ARCAFAR Sul é responsável por esta formação”, informou Cândida de Carvalho Junqueira. As próximas etapas do Encontro de Formação Continuada para professores da rede e monitores que atuam nas Casas Familiares Rurais acontecerão nos municípios de Pato Branco, Cândido de Abreu e Santa Maria do Oeste.