Colégios estaduais do Paraná investem no combate à violência 02/12/2014 - 17:50

Colégios da rede estadual do Paraná têm apostado em informação e diálogo e, também, em uma relação de confiança com os alunos para diminuir os índices de violência e conscientizar os estudantes sobre problemas atuais enfrentados pela sociedade. Um exemplo é o Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira, em Cascavel, que desenvolve os projetos “Cultura Urbana para Todos: Formando Cidadão” e “Escola de Pais”.

A escola vem investindo em ações para orientar os jovens sobre violência, drogadição, tráfico humano, prostituição e cooptação para o mundo do crime. Outro objetivo é integrar os pais à escola para que participem mais da vida estudantil dos filhos.

Mensalmente, pais e alunos se reúnem em encontros com especialistas de diversas áreas. São psicopedagogos, médicos, representantes da Patrulha Escolar e outros profissionais que abordam temas importantes para o bom desenvolvimento do aluno.

“É necessário que os pais tenham conhecimento sobre assuntos que podem influenciar as escolhas dos filhos para orientá-los. A escola não pode ficar indiferente”, disse Inelves Dani, diretora do colégio. Segundo ela, a participação ativa na educação dos filhos reflete no comportamento dos jovens, no rendimento escolar e melhora a disciplina.

Para Tatiana Maria Grobes, que participou com a filha, a aluna Eduarda Sombrio, da palestra realizada por um especialista em depressão na adolescência, a ação ajuda os jovens a se conhecerem melhor e, ainda, no diálogo entre pais e filhos. “Houve bastante envolvimento dos pais e o palestrante ponderou os dois lados. O do adulto e o do adolescente, o que ajuda na relação entre gerações”.

Eduarda e a amiga Amanda Beatriz de Almeida também concordam que as palestras são importantes para estreitar as relações familiares. “Os pais conseguem entender melhor questões psicológicas e comportamentais da adolescência”, afirmou Eduarda. Amanda também relatou que a relação em casa mudou. “Minha avó me entende mais agora”.

OUTRAS ATIVIDADES – Para oportunizar aos alunos do colégio a vivência de diferentes culturas no meio urbano, com ética e respeito pelas diferenças, foram promovidas, em parceria com a Pastoral da Juventude e a Central Única das Favelas, oficinas de poesia e dança de rua, com apresentação de hip hop, declamação de poesia e grafitagem do muro no dia 12.

“Essa foi uma proposta de intervenção que proporcionou integrar os conhecimentos curriculares com a manifestação da arte, como meio de expor a compreensão que os alunos têm sobre a sociedade e de pensar estratégias para melhorar o meio”, comentou a pedagoga Janete Nunes Martins.

De acordo com a pedagoga, é necessário desvendar os processos de alienação e as armadilhas impostas à juventude na busca pela liberdade. As alunas Ândrea Rafaela Caovila e Taís Franco Nepomuceno concordam. Elas participaram da oficina de poesia sobre violência e tráfico humano, e entendem que ações como essa promove mais respeito, tolerância e conscientização entre os alunos.

“Temos de acabar com o preconceito e aceitar a opinião de outras pessoas”, afirmou Ada Ramos Abreu. Ela e a aluna Patrícia Dsen participaram da oficina de hip hop e viram na atividade uma forma de conscientizar os jovens para a diversidade, o que diminui os índices de violência.

No Colégio Estadual Vila Macedo, em Piraquara, as equipes diretiva e pedagógica apostaram na mediação de conflitos para diminuir os índices de violência. A ação deu certo. Hoje o colégio é considerado pelo Grupo Paranaense de Comunicação a instituição que mais combateu a violência.

“O diálogo é o mais importante para solucionar problemas. Sempre escutamos todos os envolvidos e propiciamos uma reflexão sobre a importância do respeito e maneiras não violentas de reagir a situações diversas”, comentou o diretor do colégio, Gilmar Luís Cordeiro.

Segundo ele, é dever da escola prezar pela integridade e a moral do aluno. Para isso, além de estabelecer uma relação estreita de confiança com os alunos, os estudantes participam de palestras de prevenção de drogas e peças teatrais que estimulam a promoção da paz, revitalização do espaço escolar e projetos ambientais.

Em oito anos, foram produzidas mais de 210 mil mudas de plantas nativas e distribuídas à comunidade. “Os alunos precisam mexer com terra. Isso os deixa mais calmos”, apontou Gilmar. Ele comentou ainda que o ambiente influencia na aprendizagem e para deixa-lo mais agradável foi proposto aos alunos confeccionarem painéis do pintor brasileiro Romero Britto e reproduzir, em cada sala de aula, uma de suas obras, além de grafitarem os muros.

A escola mantém ainda um trabalho integrado com a Patrulha Escolar, que busca na sensibilização dos alunos, uma maneira de coibir ações violentas e promover a segurança.

De acordo com a pedagoga Francielen Cordeiro, a escola se tornou uma referência no bairro e muitos pais pedem para orientar os filhos em relação a determinados comportamentos. Francielen explica que a vivência fora da escola interfere no comportamento do aluno e o que se aprende e vivencia no colégio também influencia o comportamento na comunidade e em casa.

“Os alunos começaram a ter uma relação de confiança e não de medo com a equipe diretiva, professores e funcionários. A afetividade é essencial para as relações interpessoais, e isso gerou uma grande diminuição do índice de violência na escola”, apontou a pedagoga.

As ações de enfrentamento à violência desenvolvidas no colégio refletiram no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, diminuição da evasão escolar e das taxas de repetência.

Em Curitiba, a equipe pedagógica do Colégio Estadual São Pedro Apóstolo também desenvolve ações de combate à violência. Dentre elas, destaque para o trabalho de articulação com a Rede de Proteção para a Criança e o Adolescente.

A Rede é uma ação integrada entre instituições e atende crianças e adolescentes em situação de risco pessoal. Segundo o pedagogo Antônio José Ferreira, esse trabalho tem surtido efeitos positivos. Ele explica que primeiro é feito um mapeamento da situação dos alunos. Após o levantamento, os casos que necessitem de atendimento específico são encaminhados aos Centros de Referência Especializados de Assistência Social.

Para auxiliar o trabalho de combate à violência, a Secretaria ofertou oficinas sobre o assunto durante a Formação em Ação realizada nas escolas da rede estadual no começo do segundo semestre e disponibilizou no site um manual com tipificações de violência.

“Muitas vezes a violência causa evasão escolar. O bullying e situações de conflitos familiares e entre os próprios alunos inibem o estudante, que não se sente acolhido pelo grupo e acaba desistindo de frequentar as aulas”, explicou a coordenadora de Apoio à Gestão Escolar da Secretaria da Educação, Juara de Almeida Ferreira.

Para combater o abandono escolar, foi criado o Sistema Integrado da Evasão – Rede de Proteção (Serp), que será utilizado por professores e pedagogos para o registro de alunos em situações caracterizadas como evasão escolar.

As informações serão compartilhadas com entidades que integram a Rede de Proteção para a Criança e o Adolescente, como Conselhos Tutelares, Ministério Público e prefeituras, uma forma de garantir maior agilidade para conhecer as causas do abandono e tomar providências para o retorno à escola. Antes, esses registros eram feitos em fichas de papel.

“O trabalho integrado é importante porque, em casos de abandono, iremos acionar a Rede de Proteção para ajudar a trazer esse aluno novamente à escola e saber os motivos dele ter abandonado os estudos”, destacou Juara.

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