Conselhos de classe definem ações nas escolas públicas 15/07/2010 - 17:07

O recesso escolar começa na próxima semana e as 2.136 escolas públicas da rede estadual estão realizando uma prática pedagógica importante para definir os rumos do ensino em cada uma delas: o chamado “conselho de classe”. Nele se organiza o sistema de avaliação da escola, que pode ser bimestral ou trimestral e é uma forma de acompanhar todo o processo de ensino e aprendizagem e organização do trabalho pedagógico.
O Conselho de classe é orientado pelo pedagogo da escola e conta com a participação dos professores das disciplinas das turmas e dos funcionários das secretarias das escolas que registram as atas. “Ele não tem somente o objetivo de diagnosticar dificuldades de aprendizagem e nota, mas discutir todo o processo de ensino aprendizagem a partir do currículo, do trabalho do professor e da escola”, explica Elisane Fank, coordenadora de Gestão Escolar da Secretaria de Estado da Educação (Seed).
Segundo orientações da Seed, devem existir etapas que aconteçam antes e depois do conselho. “O conselho é um momento de culminância, mas envolve um processo. Deve-se ter um diagnóstico levantado com alunos, professores, e até mesmo com os pais, para não se discutir apenas problemas, mas o que deve ser feito em relação a eles”, define Elisane.
Além disso, os encaminhamentos do conselho devem ser realizados por todos, pois são propostas que servem para rever o trabalho de todos na escola, não apenas do aluno, ou do pai, ou do professor ou só da equipe pedagógica.
Em algumas escolas, ainda é possível encontrar em alguns conselhos de classe ideias pedagógicas surgidas em meados de 1970. “Existem ranços deste conselho de classe tecnicista em que se discute nota e aprendizagem com um viés comportamentalista, no qual o foco era o controle do comportamento com a nota”, ressalta Elisane. Para ela, o comportamento deve ser discutido, mas enquanto um condicionante que interfere na aprendizagem.
No entanto, a coordenadora também lembra que muitas escolas já incentivam a participação dos alunos nos conselhos de classe. “Se a escola conseguir avançar na organização do seu trabalho pedagógico, quem sabe possa ter a participação de representantes dos alunos para discutir junto com os professores”.

Exemplo – O Colégio Estadual Pilar Maturana, em Curitiba, tem mais de 1.300 alunos. A escola tem turmas dos ensinos fundamental e médio e Educação de Jovens e Adultos. Os conselhos de classe são realizados em três momentos e são orientados por pedagogos, com a participação de professores e funcionário da secretaria. Cada pedagogo é responsável por 9 turmas. A primeira etapa consiste em preenchimento de uma ficha por parte dos professores, que, posteriormente, é devolvida para a equipe pedagógica. “Neste instrumento o professor faz uma análise do seu trabalho, da turma e de cada um dos alunos”, conta Carolina Martins Pinto Rodrigo, pedagoga da escola.
Também é realizado um pré-conselho com os alunos na sala de aula e é mediado pelo pedagogo, que esclarece que se deve fazer uma análise profissional e não pessoal dos professores e funcionários, além do espaço físico da escola. “Os alunos relatam os aspectos que ajudaram a aprendizagem e os aspectos que interferiram de forma negativa”.
Ainda este ano, os pais dos dois alunos representantes de cada uma das turmas do ensino médio receberam um ficha de pré-conselho para avaliar a modalidade de ensino que é ofertada em blocos no colégio. “As fichas foram apresentadas no conselho para os pais e serviu, de forma positiva, para verificar como os pais estão percebendo o ensino médio”, comenta a pedagoga.
No conselho realizado com os professores, a equipe pedagógica já chega com todas as informações cruzadas para propor soluções. “Não se perde tempo com discussões sobre comportamento, falta ou indisciplina, e sim com a preocupação de se buscar soluções para as questões que envolvam a aprendizagem”, enfatiza Carolina.
O conselho de classe é um momento de tomada de decisões para mudança de rumos na escola e não deve ser utilizado só para apresentar notas de alunos. “O ponto principal é propor meios para promover a aprendizagem dos alunos. E cada aluno, cada caso, deve ser discutido, não existe critério para excluir ou aprovar alunos, deve-se discutir o todo da aprendizagem”.
Ações devem ser propostas pelo conselho para atender os casos em que os alunos tenham dificuldades de aprendizagem para que não sejam reprovados. Caso isto aconteça, o conselho também deve ter propostas para auxiliar o aluno no próximo período de estudos.
O conselho de classe também pode interferir em relação aos conteúdos que são trabalhados na escola. “Foi verificado que em uma turma seria necessário retomar conteúdos de matemática básica. Foi uma decisão tomada em conselho de classe”, exemplifica.
Já o pós-conselho serve para dar retorno para as turmas e para os professores de todas as resoluções que foram encaminhadas pelo conselho de classe. “Quando é necessário que o professor reveja a sua prática pedagógica, nós conversamos com em particular”, explica Carolina. Ela ainda lembra que as dificuldades de aprendizagem que ocorrem nas salas de aula não precisam necessariamente esperar pelo conselho de classe. Os pais também são chamados para acompanhar a aprendizagem dos alunos.
A retomada do pré-conselho com os funcionários é um dos objetivos a ser realizado ainda este ano. “Já tínhamos este hábito para verificar como os funcionários analisam a escola como um todo”, diz a pedagoga do colégio Pilar Maturana. Outro passo é possibilitar a participação de representantes do Grêmio Estudantil do colégio nas próximas reuniões dos conselhos de classe.

Conselho participativo - No Colégio Estadual Yvone Pimentel, em Curitiba, os conselhos de classes das 24 turmas dos ensinos fundamental e médio são realizados em três etapas. A diferença é que os cerca de 1,3 mil estudantes participam efetivamente em um destes momentos.
Na primeira etapa o professor representante é encarregado de preencher uma ficha com informações sobre vários assuntos relacionados ao colégio. “O pré-conselho acontece quando o professor representante de turma avalia com a turma de alunos todos vários itens sobre a escola”, explica Débora Cristina Rocha da Costa, pedagoga da escola.
O professor da turma preenche a ficha de pré-conselho com os alunos da turma. A ficha serve para levantar informações e é oportunidade para os estudantes apresentarem os problemas existentes em relação ao processo de ensino e avaliarem a infraestrutura da escola.
Depois que as informações são analisadas, após alguns dias acontece o conselho de classe nas salas de aula juntamente com os alunos. Além dos estudantes, participam também a direção, equipe pedagógica, professores, e funcionários.
Durante este conselho com os estudantes, os pais são incentivados a participar. Este envolvimento tem sido realizado há cinco anos. Este processo de promover a participação dos pais no conselho é um processo lento e gradual, segundo a pedagoga. O objetivo é melhorar o rendimento dos estudantes e discutir todas as situações que envolvem o espaço escolar.
O terceiro momento do conselho de classe é realizado com os professores das disciplinas da turma. “O foco principal também é verificar os encaminhamentos que são necessários para contribuir na aprendizagem dos alunos”, conclui Débora.