A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed) realizou nesta sexta-feira (20) a primeira formatura de docentes indígenas da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, na modalidade normal Bilíngue-Kaingang. Aproximadamente 400 pessoas prestigiaram a solenidade, em Faxinal do Céu, de colação de grau dos 29 formandos. A abertura foi ao som da banda municipal de Pinhão.

Além da secretária da educação, Yvelise Arco-Verde, estiveram presentes pela Seed: o chefe do departamento da diversidade, Wagner Roberto do Amaral, a chefe do departamento de educação e trabalho, Sandra Regina Garcia, a coordenadora do curso de formação de docentes, Maria de Fátima Cruz, a coordenadora da educação escolar indígena, Cristina Cremoneze e demais representantes dos núcleos regionais de educação.
Yvelise ressaltou a importância da carreira do magistério. “Como educadora, sei do valor deste momento que, apesar de singelo, torna-se imenso”. A secretária falou sobre o grande desafio de estruturar o curso aos indígenas, sem ter que prejudica-los na sua formação. “Criamos parcerias, fomos aprendendo a lidar de forma diferente com a educação. Construímos escolas itinerantes para atender comunidades que se deslocam”, disse. Segundo ela, o conhecimento deve ser transmitido, mas a forma de fazê-lo depende da realidade onde os alunos estão inseridos.
O Curso – Os 29 cursistas indígenas iniciaram seus estudos em 2006, com o objetivo principal de tornarem-se aptos a lecionar para as séries iniciais (1ª a 4ª séries) da educação básica. Com a formação concluída, os professores voltam para a sua comunidade e alfabetizam as crianças em sua língua nativa e em Português. Outras três turmas estão em andamento (formação integrada e aproveitamento de estudos).
Organizado em sistema de alternância, o curso foi constituído por etapas presenciais ministradas em Faxinal do Céu e não presenciais dadas na comunidade indígena. Durante o período das aulas, os alunos foram acompanhados por parte dos profissionais dos núcleos regionais que coordenam a educação indígena e a educação profissional das coordenações da Seed, dos professores atuantes no curso e dos pedagogos das escolas indígenas.
Os estudantes são oriundos de aldeias localizadas em Mangueirinha, Nova Laranjeiras, Tamarana, Turvo, São Jerônimo da Serra, Laranjeiras do Sul, Manoel Ribas, Palmas, Candido de Abreu e Guarapuava.
O chefe do departamento da diversidade (Dedi), Wagner Roberto do Amaral, convidou a comunidade Kaingang para fazer a diferença na educação pública do Paraná. ”O direito dos índios de ter acesso ao conhecimento é fundamental para que possam fortalecer sua própria cultura, sendo tratados com igualdade de direitos como todos os cidadãos”,contou.
De acordo com a chefe do departamento de educação e trabalho (Det), Sandra Garcia, o momento é para compartilhar a alegria, porque o curso proporciona a possibilidade de outras formações.”Em breve, teremos outros cursos destinados à comunidade indígena, dando autonomia para que as aldeias possam tem uma melhoria na qualidade de vida de sua gente”.
Para a formanda Jandira Grisanh Felisbino, a formatura vai ser lembrada como o dia mais importante da sua vida. “Fiz muitos sacrifícios para chegar até aqui, toda a minha família sabe do meu esforço, inclusive, minha filha também está se formando junto comigo”, afirmou.
Janaina Kuita Rodrigues, formanda, em nome da turma reafirmou o compromisso da profissão de professor.”Cumprir com os deveres do magistério em beneficio da comunidade”, jurou. O orador da turma, Jesus Antonio de Souza falou da necessidade que o índio tem para ocupar o espaço que só a ele pertence por direito. “Cabe a nós preservarmos nossa cultura e transmiti-la as futuras gerações”, destacou Souza.
Cristina Cremoneze, coordenadora da educação escolar indígena, acompanhou junto com os alunos o esforço da SEED para implantar o curso. “Depois de todo o trabalho, as índias com seus filhos, muitos longe de casa e, agora vê-los formados é gratificante”, justificou.
A professora Kaingang concursada do município de Nova Laranjeiras, Doracilda Lourenço Bernardo, contou que sempre lutou pela criação do curso. Ela fez o magistério fora da sua comunidade indígena.”Esse curso vem atender uma reivindicação antiga pela formação do professor indígena. Fiz meu curso com os brancos, mas estou feliz por estes alunos , como se eu também estivesse entre eles”, comemorou.
Para o representante dos caciques, Valdir José Kokoi, o curso dará a eles a oportunidade de conseguir uma educação melhor para as crianças das aldeias. “Lutamos para conquistar esse sonho, só temos a agradecer a todos que estiveram conosco, em especial a SEED. Continuaremos lutando por uma vida melhor para nosso povo”, finalizou Kokoi.